Recordar os Mártires – Os ataques de Gojra
Paquistão

Em 1 de agosto de 2009, milhares de extremistas islâmicos — entre eles militantes de grupos terroristas — organizaram uma marcha na cidade de Gojra, no nordeste do Paquistão, protestando contra uma alegada profanação do Alcorão por cristãos. A manifestação rapidamente degenerou em motim: os radicais invadiram o bairro cristão munidos de varapaus, revólveres, pedras, tijolos e combustível, agredindo os habitantes, pilhando as casas e incendiando-as. Uma igreja foi igualmente reduzida a cinzas.
As principais estradas e a linha ferroviária foram bloqueadas para impedir a chegada dos bombeiros. Pelos altifalantes das mesquitas ecoavam apelos a que «todos os que amam Maomé» se juntassem para «defender o Islão».
O caos agravou-se. Mulheres e crianças ficaram feridas nos incêndios domésticos e, devido aos bloqueios, muitas não conseguiram chegar ao hospital a tempo. No fim, contabilizaram-se cerca de 100 casas saqueadas, 50 delas totalmente queimadas, uma igreja destruída, 14 mortos e 19 feridos. A presença policial antes do motim revelou-se, no mínimo, simbólica.
Só depois de as famílias cristãs terem depositado os corpos dos mortos sobre os caminhos-de-ferro, em protesto, é que as autoridades aceitaram registar queixas formais contra os agressores.
O rastilho
Dois dias antes, a 30 de julho, a aldeia de Korian, a apenas 11 km de Gojra, também tinha sido atacada: a maioria dos cristãos fugiu, mas pelo menos 60 casas foram saqueadas e depois incendiadas. Ambos os ataques nasceram de rumores de blasfémia iniciados em 25 de julho.
Nessa data, durante um casamento cristão, convidados atiraram moedas e notas ao ar — tradição local — para as crianças apanharem. A festa, com música e gargalhadas, decorria perto de um funeral muçulmano, cujo silêncio foi quebrado pelo barulho das celebrações.
No dia seguinte, alguns muçulmanos confrontaram os pais da noiva, acusando as crianças de terem rasgado páginas do Alcorão (na verdade, páginas de um livro escolar antigo) e usá-las como confetes. O pai da noiva, Talib Masih, negou o episódio mas prometeu investigar e, se necessário, pedir desculpa. Foi espancado até perder os sentidos.
Poucos dias depois, clérigos muçulmanos anunciaram pelas mesquitas que os «cristãos infiéis» tinham profanado o Alcorão e ameaçaram-nos de morte se não abandonassem a zona — ameaça que se concretizou nos ataques a Korian e Gojra, um dos piores episódios de perseguição anticristã no Paquistão.
Um contexto hostil
No Paquistão, país maioritariamente muçulmano, os cristãos representam menos de 5 % dos cerca de 175 milhões de habitantes. Gojra, na província de Punjab, é a sede da Igreja Anglicana do Paquistão e concentra grande parte da minoria cristã, mas também cerca de quarenta grupos militantes islâmicos, alguns ligados aos Talibã e à al-Qaeda.
As severas leis antiblasfémia do país são recorrentemente usadas para perseguir cristãos.
Fé até ao fim
«Se alguém quer seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mateus 16:24). Para muitos cristãos paquistaneses, este chamado é vivida à letra: morrem apenas por proclamarem o nome de Cristo. Contudo, no seu sacrifício corajoso, a história não termina.
«Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa, encontrá-la-á» (Mateus 16:25).